Estrela do Sertão
Este haveria
de ser um dia como os outros,mas não
foi. Um telefonema mudou o rumo da minha história. Começou uma não sei se devo
dizer triste ou quase linda história,daquelas parar rir e chorar muito mesmo.
Meu irmão me
ligou e me disse que havia conseguido um trabalho naquela tão falada Estrela
nem ouvi o final do nome o susto foi imenso. Dentro de menos de uma semana eu
deveria deixar Redenção cidade que havia conquistado meu coração e que eu já
aprendera amar de paixão. Tinha amigos preciosos daqueles mais que irmãos pais
o mães aquelas jóias raras e preciosas que caem como anjos do céu em nossas
vidas. E agora eu sentia que estava perdendo tudo aquilo outra vez... parecia
um retrocesso ao inicio a mais de dois anos atrás. Deixar tudo ir rumo ao
desconhecido ,sem conhecidos amigos e parentes. Era necessário, eu precisava do
salário para meu sustento. Senti minha alma desmaiar dentro de mim ,o chão
sumiu, as forças desapareceram como sempre era preciso ser forte.De onde viriam
essa força e coragem, só posso dizer que do céu único lugar onde podemos achar
essa força sobrenatural nas agruras da vida.
Encaixotava
meus poucos pertences, parecia ter acordado dentro de um pesadelo. Minha amiga
Marli ,mãe fiel que encontrei por milagre acompanhava atenta e dedicada minha trajetória,
as vezes as lagrimas dela desciam vendo as minhas.Tentou me fazer desistir acho
por ver meu sofrimento, mas não havia opção nem escolha eu precisava ir.
Era um
domingo pela manhã parti com meu irmão com meus pertences em uma camioneta da
prefeitura. Eu procurava abafar o desespero e encarar a realidade.
Esqueci do
pesadelo por instantes e desfrutei da agradável viagem. A paisagem na pequena
estrada de chão era linda. Parecia ter voltado a minha infância as lindas
montanhas cobertas de grama faziam lembrar Santa Catarina e o sitio do meu avô.
Quando
chegamos ao minúsculo vilarejo encravado no sertão a chuva desabava
torrencialmente. Em meio ao temporal vi nascendo aos poucos em minha frente um
filme de terror. Já sabíamos que a bomba que enviava água ao vilarejo estava
com problemas que meu irmão veio para solucionar, com o temporal os telefones
fixos única comunicação do lugar pararam de funcionar, a energia faltou e
alguém avisou: - aqui a energia costuma faltar por muitos dias.
Ao abrir a
casa em que eu deveria morar estava tudo úmido, muito lixo molhado cobria o
chão e morcegos sobrevoavam para cá e para lá.
Definitivamente
pensei que eu não sobreviveria naquele lugar.
Comecei
implorar ao meu irmão que não me deixasse sozinha naquele lugar, assim como a
chuva as lágrimas caiam torrencialmente eu era só desespero. Disse ao meu irmão
que se me deixasse viria me sepultar eu não sobreviveria. Mas ele reagia
friamente, sabia que eu era forte e nem dava sinais de preocupação o que me desesperava e irritava ainda mais.
Acabei perdendo o controle e dizendo coisas duras demais a filha dele minha
sobrinha que insistia em desfilar conselhos inúteis que só traziam mais
desespero.
Na segunda
feira pela manhã ainda madrugada as cinco horas todos se foram era como bem
disse o cantor Lazaro eu nem via mais o cais só eu e Deus agora...
As sete da
manhã procurei me recompor e fui a escola me apresentar para a diretora para
assumir o suposto emprego. Mas descobri que ele nem existia.
Agora
sozinha, sem comunicação, com pouco dinheiro, sem emprego, andava atordoada pelas
ruazinhas de terra, acho que eu era a atenção e comentário do pequeno vilarejo,
um ET loira única sulista, com aquele sotaque , me sentia como se tivesse sido
derrubada do planeta terra para outro lugar de um filme qualquer .
Torcia
para acordar do pesadelo, mas eu sabia
não estava sonhando era tudo realidade e eu nem fazia idéia de como sobreviver.
Então fiz o que aprendi fazer em todos os momentos de pesadelo pelos quais já
passei ao longo da minha existência.
Olhava paro
o infinito e dizia : Deus eu nem sei o que pedir e dizer, estou desesperada ,
desculpe por dizer isso porque o Senhor
sempre me socorreu mas se até ao anoitecer alguém não aparecer para me ajudar
eu acho que vou acabar com a vida, Deus, minhas forças não são suficiente para
tudo isso. E aquele dia durou anos....
Aproximadamente
as cinco da tarde vi alguém chegando carregando suas malas , parecia um
americano jogador de basquete alto , moreno, pensei se tratar do médico cubano,
mas não.
Ele iria se
hospedar na casa vizinha a minha. A casa estava suja, quando vi ele tentando
limpar resolvi oferecer ajuda mas ele disse que vira alguém para fazer o
trabalho e descobri que era professor estadual do ensino modular. Saí mas logo
ele perguntou sobre a energia e água que não havia, tentei ajudar novamente mas
sem sucesso. Então ele sentou-se na calçada em frente a minha casa e com as
mãos na cabeça dizia ser impossível ficar, precisava ir embora, mas naquele dia
já nem haveria transporte. Vi a minha
própria imagem desesperada sentada diante de mim.
Definitivamente
eu precisava ajudar, fazer alguma coisa... eu sabia exatamente o que se sente
em um momento assim com certeza. Fiz o que eu jamais faria nem faço... Moço,
olha só não fique desesperado. Eu acabei de chegar, minha situação é pior que a
sua ( ele jamais poderia entender o que eu dizia) mas eu aluguei essa casa, não
tem nada no lugar está suja acabei de chegar. Mas tem água e luz se você não
conseguir outro lugar dorme nessa sala. Eu nem te conheço , mas você me
respeita e eu faço o mesmo e damos um jeito de sobreviver em meio a tudo isso.
Nem sei
porque mas ele parecia mais calmo.
Imediatamente colocou as malas na sala e sentou-se na cadeira e ponderou. Em um
lugar desses nem hotel deve existir. Ah ja idéia de hotel foi como uma luz
acesa. Moço eu sei onde é o hotel, dizem que é caro mas não custa perguntar.
E lá fomos
nós rua a fora andando como velhos conhecidos quase amigos, talvez o sofrimento
tenha um poder mágico de unir as pessoas.
Achamos o
dono 25 reais era o preço por um quarto com uma cama de concreto, um ventilador
mas aparentemente tudo limpo. Moço, não que eu não queira te ajudar mas se
puder pague durma tranqüilo essa noite, tome seu merecido banho depois dessa
longa viagem desde Belém, vá dar sua aula a noite e amanhã você resolve o
problema da casa. Ele aceitou, ajudei carregar suas pesadas malas , me despedi
e voltei para casa.Eu estava incrivelmente feliz por ter ajudado alguém mesmo
porque eu sabia o que era estar sozinha naquele lugar mas a sensação de solidão
parecia ter desaparecido e dormi tranquilamente aquela primeira noite sozinha
em minha casa.
No outro dia
pela manhã ele apareceu dizendo que ia ficar no hotel, o alertei que teria que
arcar com as despesas já que tinham colocado a casa a sua disposição. Ele disse que ficaria sete
dias faria um relatório e iria embora , tinha vindo para ficar quinze. Eu
resolvi não opinar mas a idéia de ter um
amigo por sete dias me alegrava.
E realmente
foi um amigo passageiro como as nuvens mas que me abençoou como a chuva em
terra seca. Todos os dias ia em minha casa, sempre me dando força, nossas
conversas eram agradáveis era como se meu irmão caçula tivesse vindo me ajudar.
Ele foi como um irmão e me respeitava como se fosse, apesar de que o vilarejo
resolveu dizer que era um caso de amor não havia nada disso. Era uma amizade
pura e sincera eu não sei porque mas sempre achei que foi resposta do meu
pedido a Deus.
Ele ficou
quinze dias, pagou o hotel do seu próprio bolso.Os alunos o admiraram, a
diretora escreveu uma carta agradecendo a presença dele, na despedida fizeram
uma festa linda com comidas deliciosas, alguém disse que ele chorou e não vi
mas como eu disse a ele – Você escreveu uma história linda em apenas quinze
dias que me inspira a ficar nesse lugar. Em nada aquilo se parecia com o moço
sentado na minha calçada com a mãos na cabeça a apenas quinze dias atrás. Me
senti feliz por ter prestado minha insignificante ajuda que foi retribuída por
aquela curta e rápida amizade.
Eu estava
sozinha outra vez, mas já estava trabalhando , o meu irmão havia conseguido
junto a prefeita o trabalho na escola. Eu já conhecia os colegas na escola e
apesar da ausência do amigo eu já estava bem mais habituada aquela nova
realidade e resolvi seguir os conselhos. Erica já que você diz que vai ficar
aqui dê o seu melhor não para aparecer diante das pessoas mas para ter um bom motivo por ter vindo e
para se sentir feliz se isso for possível. Ele achava que eu não tinha nada a
ver com aquele lugar e eu sempre achei que ele estava certo.
Ainda tem
muitas estórias nesse mundo de Estrela rssss e eu as contarei com certeza...
assim foram meus primeiros dias por aqui, agora conheço muita gente, vivo
sorrindo, acho graça de tanta aventura, até acho que posso dizer que gosto
daqui , do meu cantinho da paisagem encantadora que o lugar oferece, acho que
viajo pela pagina de um livro todos os dias... chorei muito agora já é tempo de
riso e assim que tiver oportunidade volto para contar essas belas histórias
desse sertão paraense encravada nas verdes montanhas e vales onde se anda rindo
e chorando as vezes de tristeza outras de felicidades escrevendo lindas histórias
de vida sempre .
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