sábado, 26 de julho de 2014

Estrela do Sertão
Este haveria   de ser um dia como os outros,mas não foi. Um telefonema mudou o rumo da minha história. Começou uma não sei se devo dizer triste ou quase linda história,daquelas parar rir e chorar muito mesmo.
Meu irmão me ligou e me disse que havia conseguido um trabalho naquela tão falada Estrela nem ouvi o final do nome o susto foi imenso. Dentro de menos de uma semana eu deveria deixar Redenção cidade que havia conquistado meu coração e que eu já aprendera amar de paixão. Tinha amigos preciosos daqueles mais que irmãos pais o mães aquelas jóias raras e preciosas que caem como anjos do céu em nossas vidas. E agora eu sentia que estava perdendo tudo aquilo outra vez... parecia um retrocesso ao inicio a mais de dois anos atrás. Deixar tudo ir rumo ao desconhecido ,sem conhecidos amigos e parentes. Era necessário, eu precisava do salário para meu sustento. Senti minha alma desmaiar dentro de mim ,o chão sumiu, as forças desapareceram como sempre era preciso ser forte.De onde viriam essa força e coragem, só posso dizer que do céu único lugar onde podemos achar essa força sobrenatural nas agruras da vida.
Encaixotava meus poucos pertences, parecia ter acordado dentro de um pesadelo. Minha amiga Marli ,mãe fiel que encontrei por milagre acompanhava atenta e dedicada minha trajetória, as vezes as lagrimas dela desciam vendo as minhas.Tentou me fazer desistir acho por ver meu sofrimento, mas não havia opção nem escolha eu precisava ir.
Era um domingo pela manhã parti com meu irmão com meus pertences em uma camioneta da prefeitura. Eu procurava abafar o desespero e encarar a realidade.
Esqueci do pesadelo por instantes e desfrutei da agradável viagem. A paisagem na pequena estrada de chão era linda. Parecia ter voltado a minha infância as lindas montanhas cobertas de grama faziam lembrar Santa Catarina e o sitio do meu avô.
Quando chegamos ao minúsculo vilarejo encravado no sertão a chuva desabava torrencialmente. Em meio ao temporal vi nascendo aos poucos em minha frente um filme de terror. Já sabíamos que a bomba que enviava água ao vilarejo estava com problemas que meu irmão veio para solucionar, com o temporal os telefones fixos única comunicação do lugar pararam de funcionar, a energia faltou e alguém avisou: - aqui a energia costuma faltar por muitos dias.
Ao abrir a casa em que eu deveria morar estava tudo úmido, muito lixo molhado cobria o chão e morcegos sobrevoavam para cá e para lá.
Definitivamente pensei que eu não sobreviveria naquele lugar.
Comecei implorar ao meu irmão que não me deixasse sozinha naquele lugar, assim como a chuva as lágrimas caiam torrencialmente eu era só desespero. Disse ao meu irmão que se me deixasse viria me sepultar eu não sobreviveria. Mas ele reagia friamente, sabia que eu era forte e nem dava sinais de preocupação  o que me desesperava e irritava ainda mais. Acabei perdendo o controle e dizendo coisas duras demais a filha dele minha sobrinha que insistia em desfilar conselhos inúteis que só traziam mais desespero.
Na segunda feira pela manhã ainda madrugada as cinco horas todos se foram era como bem disse o cantor Lazaro eu nem via mais o cais só eu e Deus agora...
As sete da manhã procurei me recompor e fui a escola me apresentar para a diretora para assumir o suposto emprego. Mas descobri que ele nem existia.
Agora sozinha, sem comunicação, com pouco dinheiro, sem emprego, andava atordoada pelas ruazinhas de terra, acho que eu era a atenção e comentário do pequeno vilarejo, um ET loira única sulista, com aquele sotaque , me sentia como se tivesse sido derrubada do planeta terra para outro lugar de um filme qualquer .
Torcia para  acordar do pesadelo, mas eu sabia não estava sonhando era tudo realidade e eu nem fazia idéia de como sobreviver. Então fiz o que aprendi fazer em todos os momentos de pesadelo pelos quais já passei ao  longo da minha existência.
Olhava paro o infinito e dizia : Deus eu nem sei o que pedir e dizer, estou desesperada , desculpe por dizer isso porque  o Senhor sempre me socorreu mas se até ao anoitecer alguém não aparecer para me ajudar eu acho que vou acabar com a vida, Deus, minhas forças não são suficiente para tudo isso. E aquele dia durou anos....
Aproximadamente as cinco da tarde vi alguém chegando carregando suas malas , parecia um americano jogador de basquete alto , moreno, pensei se tratar do médico cubano, mas não.
Ele iria se hospedar na casa vizinha a minha. A casa estava suja, quando vi ele tentando limpar resolvi oferecer ajuda mas ele disse que vira alguém para fazer o trabalho e descobri que era professor estadual do ensino modular. Saí mas logo ele perguntou sobre a energia e água que não havia, tentei ajudar novamente mas sem sucesso. Então ele sentou-se na calçada em frente a minha casa e com as mãos na cabeça dizia ser impossível ficar, precisava ir embora, mas naquele dia já nem haveria transporte. Vi  a minha própria imagem desesperada sentada diante de mim.
Definitivamente eu precisava ajudar, fazer alguma coisa... eu sabia exatamente o que se sente em um momento assim com certeza. Fiz o que eu jamais faria nem faço... Moço, olha só não fique desesperado. Eu acabei de chegar, minha situação é pior que a sua ( ele jamais poderia entender o que eu dizia) mas eu aluguei essa casa, não tem nada no lugar está suja acabei de chegar. Mas tem água e luz se você não conseguir outro lugar dorme nessa sala. Eu nem te conheço , mas você me respeita e eu faço o mesmo e damos um jeito de sobreviver em meio a tudo isso.
Nem sei porque  mas ele parecia mais calmo. Imediatamente colocou as malas na sala e sentou-se na cadeira e ponderou. Em um lugar desses nem hotel deve existir. Ah ja idéia de hotel foi como uma luz acesa. Moço eu sei onde é o hotel, dizem que é caro mas não custa perguntar.
E lá fomos nós rua a fora andando como velhos conhecidos quase amigos, talvez o sofrimento tenha um poder mágico de unir as pessoas.
Achamos o dono 25 reais era o preço por um quarto com uma cama de concreto, um ventilador mas aparentemente tudo limpo. Moço, não que eu não queira te ajudar mas se puder pague durma tranqüilo essa noite, tome seu merecido banho depois dessa longa viagem desde Belém, vá dar sua aula a noite e amanhã você resolve o problema da casa. Ele aceitou, ajudei carregar suas pesadas malas , me despedi e voltei para casa.Eu estava incrivelmente feliz por ter ajudado alguém mesmo porque eu sabia o que era estar sozinha naquele lugar mas a sensação de solidão parecia ter desaparecido e dormi tranquilamente aquela primeira noite sozinha em minha casa.
No outro dia pela manhã ele apareceu dizendo que ia ficar no hotel, o alertei que teria que arcar com as despesas já que tinham colocado a casa  a sua disposição. Ele disse que ficaria sete dias faria um relatório e iria embora , tinha vindo para ficar quinze. Eu resolvi não opinar mas  a idéia de ter um amigo por sete dias me alegrava.
E realmente foi um amigo passageiro como as nuvens mas que me abençoou como a chuva em terra seca. Todos os dias ia em minha casa, sempre me dando força, nossas conversas eram agradáveis era como se meu irmão caçula tivesse vindo me ajudar. Ele foi como um irmão e me respeitava como se fosse, apesar de que o vilarejo resolveu dizer que era um caso de amor não havia nada disso. Era uma amizade pura e sincera eu não sei porque mas sempre achei que foi resposta do meu pedido a Deus.
Ele ficou quinze dias, pagou o hotel do seu próprio bolso.Os alunos o admiraram, a diretora escreveu uma carta agradecendo a presença dele, na despedida fizeram uma festa linda com comidas deliciosas, alguém disse que ele chorou e não vi mas como eu disse a ele – Você escreveu uma história linda em apenas quinze dias que me inspira a ficar nesse lugar. Em nada aquilo se parecia com o moço sentado na minha calçada com a mãos na cabeça a apenas quinze dias atrás. Me senti feliz por ter prestado minha insignificante ajuda que foi retribuída por aquela curta e rápida amizade.
Eu estava sozinha outra vez, mas já estava trabalhando , o meu irmão havia conseguido junto a prefeita o trabalho na escola. Eu já conhecia os colegas na escola e apesar da ausência do amigo eu já estava bem mais habituada aquela nova realidade e resolvi seguir os conselhos. Erica já que você diz que vai ficar aqui dê o seu melhor não para aparecer diante das pessoas   mas para ter um bom motivo por ter vindo e para se sentir feliz se isso for possível. Ele achava que eu não tinha nada a ver com aquele lugar e eu sempre achei que ele estava certo.
Ainda tem muitas estórias nesse mundo de Estrela rssss e eu as contarei com certeza... assim foram meus primeiros dias por aqui, agora conheço muita gente, vivo sorrindo, acho graça de tanta aventura, até acho que posso dizer que gosto daqui , do meu cantinho da paisagem encantadora que o lugar oferece, acho que viajo pela pagina de um livro todos os dias... chorei muito agora já é tempo de riso e assim que tiver oportunidade volto para contar essas belas histórias desse sertão paraense encravada nas verdes montanhas e vales onde se anda rindo e chorando as vezes de tristeza outras de felicidades escrevendo lindas histórias de vida sempre .






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