quinta-feira, 25 de abril de 2013


Pão com Mel

Era apenas uma tarde como as outras, em que eu me esforçava para espantar a tristeza e manter a luz da alegria da vida acesa.

... E lá se veio ela, minha infância, devagarzinho de volta a minha mente, quase como um filme em minha frente. Uma amiga de infância conversava comigo em uma página social e lá estava a frase:

-Lembro do pão caseiro quentinho que sua   mãe servia com mel e nata pra a gente , era uma delicia!!! Sua mãe era uma pessoa muito boa!

Em um segundo apenas ,...as lágrimas desciam como cachoeiras pelo meu rosto,nem sei dizer por quanto tempo.... lágrimas de alegria, saudades,emoção por saber o efeito de um simples pão com mel e nata.

Minha mãe já se foi para sempre por mais de vinte anos mas ainda faz muita falta e sua lembrança continua mais viva do que nunca.

Era uma menininha simples. Morava pertinho de casa. A gente costumava brincar nos arredores  dali e éramos colegas de escola. Por vezes assistiam televisão em nossa casa já que esses aparelhos eram coisa rara nesse tempo.

Morávamos em uma linda casinha. Aos fundos um lindo pomar  plantado cuidadosamente por meu pai. Tinha pastagens onde minha mãe cuidava das vaquinhas lindas Beleza era seu nome... a outra creio que tinha um nome alemão... elas eram quem davam o leite que cobria de nata aquele pão fresquinho feito cuidadosamente por minha mãe.

Mais ao fundo a pequena roça era farta de delicias. Melancia, repolho, milho verde, batata doce ,amendoim. Dava trabalho mas nossa mesa era farta.

Depois o sonho acabou. Mudamos para uma cidade recém-fundada no Mato Grosso mesmo que tivéssemos dinheiro não havia onde comprar fartura e o solo era pobre e seco diferente de onde morávamos em Riqueza, esse é o nome da cidadezinha em Santa Catarina onde se comia pão quentinho .

Agora já se haviam passado mais de trinta anos. A vida já pregou muitas peças, muitos sonhos desfeitos.

Aquela menininha (  que comia pão quentinho com nata e mel) é hoje uma advogada, esposa de um médico e mãe de três filhos nem sei ao certo onde mora.

Ela é dona de muitas vacas e de uma fazenda no estado do Mato Grosso , e hoje ela me falou da delicia que minha mãe servia e da bondade e amor  ... eu não saberia ao certo descrever a lista de qualidades de minha mãe mesmo porque as lágrimas de emoção estão me atrapalhando a fazer isso.

Talvez hoje o mundo esteja tão duro e triste porque já não existem Clara, esse era o nome da minha mãe... elas morreram ao longo dos tempos. Crianças menos favorecidas não podem mais saborear o pão quentinho com mel e nata recheado de amor e ternura que ainda sobrevive por mais de trinta anos.

A  modernidade a cada dia rouba das crianças, dos jovens de todos nós aquelas Claras que faziam a vida brilhar de sentimentos bons que sobrevivem a morte.

Deus!Talvez esse seja meu pedido nessa tarde fria e solitária... não tanto porque minha amiga de infância me visitou e trouxe um pouquinho da minha mãe pertinho de mim.E senti aquele sabor a tanto esquecido! Sim meu pedido , Deus é que a genética da minha mãe não fique só no meu sangue mas no meu coração, na minha vida e quem sabe depois que eu já fui embora pra sempre por mais de vinte anos uma pessoa bem sucedida possa dizer: Que delicia o pão caseiro com mel e nata... ela era uma pessoa  maravilhosa!

Enquanto escrevo o texto as lágrimas descem, não saberia dizer se são de alegria, tristeza , gratidão . Ainda bem que tenho dois olhos assim enquanto um se ocupa da alegria e gratidão, o outro derrama as lagrimas de tristeza e saudades na esperança que por esse mundo afora possam nascer CLARAS que deixem seu pão caseiro quentinho com nata e mel gravados no coração de uma criança mulher , que hoje defende causas daquele que buscam justiça! Dedico a minha mãe com carinho esse pedacinho especial do meu blog contendo histórias da vida real escritas para Rir e Chorar...

 

 

 

 

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