Assim Era O Natal...
Vivíamos
então na pequenina cidade catarinense chamada Riqueza. Os dias eram longos
muito longos. Faltam 30 para o natal... 20 ... 10 difícil esperar a ansiedade consumia o
coração. Mas lá estava ele o dia 24 de dezembro e a magia começavam.
Meus pais
trancavam a sala a árvore era montada em segredo. Como ela seria? Os enfeites
eram quase os mesmos todos os anos mas a criatividade despertava um rio de
curiosidade. Mas o espetáculo eram os lindos prendedores que prendiam velas
multicores ao pinheirinho como o chamávamos. Muitos pinheirinhos mais tarde se
tornaram frondosas araucárias.
Eram velas pequenas
torneadas fabricadas especialmente para esse fim, vermelhas, amarelas, azuis, a
gente sabia que ia ter o momento da magia em que se pegava a caixinha de
fósforos e juntos acendíamos uma por uma para desfrutarmos da luz. Os presentes
muitas vezes eram fabricados pelo meu pai, carrinhos de madeira, raquetes com
pintinhos que a um simples balanço picavam os grãos, palhaços coloridos que voavam
na corda... outros eram comprados .Uma vez ganhamos blocos de montagem , blocos
mágicos. Minha irmã se tornou a melhor engenheira que conheci, ela construía
como ninguém uma casinha verde e branca, deve ser por isso que até hoje aprecio
as casa verdes...
Mas o pacote
de doces que cada um de nós recebia era a grande emoção. As bolachas feitas
pela minha mãe com seus inúmeros desenhos com glacê e açúcar confeiteiro, de
mel de vários sabores. Balas e aqueles chocolatinhos neugebauer pequenos mas
deliciosos e algumas maiores guardadas para momentos especiais.
Mas tudo
tinha uma solenidade especial. Só era permitido comer doce ou alguma coisa em
comum acordo com os quatro irmãos assim ninguém corria o risco de ficar sem antes
que o outro. Então eram dois longos meses de negociações... e de união total é
claro.Se alguém quebrasse a regra cabia outra negociação para que tudo ficasse
certo outra vez.
Não havia
ceia caras, pratos mirabolantes
sentávamos ao redor da árvore iluminada de velas, comíamos os delicioso
biscoitos, cucas de pêssego, amendoim etc feitos por minha mãe e não me lembro
ao certo creio que a bebida era café com leite. Conversávamos sobre tudo sobre
nada a luz das velinhas que a gente observava sorrindo, testávamos os brinquedos,
fazíamos o primeiro acordo de que chocolate comeríamos e era o natal mais
divertido e lindo que o mundo conheceu...
Depois
crescemos, éramos inteligentes, responsáveis, gente grande e precisávamos
cuidar da nossa vida, como se isso fosse possível. Acho que pensamos que éramos
os únicos habitantes e que precisávamos morar um em cada estado do país. Por
muitos anos meu pai conseguiu convencer meus dois irmão e e suas famílias a
permaneceram perto deles. Então nas férias os encontros familiares ainda tinha
cucas, bolos , pudins e gostinho de mamãe...
até que ela se foi e com ela todos fomos para qualquer lugar... Santa
Catarina, Mato Grosso, Goáis , Pará... só restam os satélites mas muito dos
familiares nunca se acostumaram a eles .Agora os dias deveriam ser longos e o
natal não deveria chegar jamais...Triste data...mas hoje , hoje vi o natal....
Eu estava no
mercado fazendo o equilíbrio impossível de comprar o necessário pagando pouco.
O Balcão de frios... lá estava ela . Uma menininha de grandes olhos cinzentos,
branquinha com seu lindo vestido que deixava seu corpinho gordinho elegante.
Ela ariscou com seu lindo sorriso olhando para mim: Oi ...levantei os olhos lá
estava a linda criatura.
- Respondi:
Tudo bem com o sorriso merecido é claro.
Ela foi
rápida: como é o seu nome o sorriso e os olhos eram igualzinhos as velas
coloridas do natal!!
Senti-me
importante. Erica respondi e já ia perguntando o seu nome mas como uma
personalidade educada e importante ela foi logo dizendo Meu nome é (Como nós
adultos somos descuidados esqueci o nome da menina) e ela continuou essa é minha irmã ..(disse o nome é claro mas como uma adulta esqueci). com
um gesto seguro e delicado apontou a irmã. Sorri ... prazer em conhecê-la... Como nós adultos somos
antipáticos procurei os pais com os olhos sorri e saí... não sabemos mais
apreciar nem o pinheirinho nem as velas .
Mas ela era
persistente em outro corredor lá estava ela me olhando e sorrindo... me encontrou
de novo. Acho que é a gente que desiste do natal mas ele nunca desiste da
gente.
Continuei
fazendo minhas compras nós adultos somos muito responsáveis e ocupados.Não temos tempo para coisa pequenas e
insignificantes.
Já estava
quase acabando me aproximei do caixa, lembrei que faltavam dois itens. voltei
as prateleira e então regressei ao carrinho de compras la estava ela... uhmm
quanta coisa , tudo isso. - É tudo isso,respondi .
E para que
tanta coisaaaa??? Eu preciso de tudo isso. Sabe , eu vou precisar comer, tomar
banho, limpar a casa e então... dei um sorriso que era o que ela realmente
perguntava... e aí vou precisar de tudooo isso. Ela sorriu... e vai levar tudo
para casa? (colocou as mãos na cinturinha imitando gente grande) Sim respondi
com um sorriso ,é claro o sorriso é o que ela perguntava. Eu, qual o gesto que
eu poderia fazer para ser como gente pequena. Ah como eu queria ser gente
pequena...
Parar em
qualquer lugar, perguntar o nome e mais perguntas mil, alguém que nunca vi mas
poderia ser meu amigo porque não... afinal gente pequena só tem amigos e depois
receber a resposta não sobre os produtos porque a ela não interessava quanto eu
pagaria no caixa, mas perguntar só para ter a resposta... o sorriso e a atenção
é claro e se tornar uma pequena estrela importante porque sabia perfeitamente
conversar com gente grande.
O natal era
assim. Hoje meu natal foi assim lindo, as velas os olhinhos brilhando, a
conversa sem importância ( para gente grande) porque foi a conversa mais
importante e linda dos últimos tempos, meu presente de natal eu creio , aquele
natal do menininho deitado na manjedoura, na palha chorando... só para receber
como resposta um sorriso... sem importar com o valor que a situação envolveria.
Quero que
meu natal seja assim, biscoitos simples mas deliciosos, velas coloridas e
multicores mostrando suas luzes só para iluminar o brilho dos olhos e o sorriso
dos lábios, e uma menininha pequena grande menina dos olhos brilhando
interessada em saber meu nome, minhas necessidades e querendo dividir um pouco
da sua vida com gesto simples apresentando a irmã... ela não saberia enumerar nenhum item da minha compra muito
menos o valor dela mas ela sabia com perfeição o que fazer para me deixar
feliz, sorrindo por um tempo.. . por muito tempo... ela se tornou personagem
das minhas histórias para rir e chorar, preciso pedir perdão a ela porque na
minha intransigência esqueci seu nome, nunca se deve esquecer o nome de uma
pessoa tão importante em nossas vidas...
Assim é o
natal simples e puro como uma criança. Se fosse possível imitá-la!! Aí na
solidão eu pararia alguém em um lugar qualquer... e era só dizer... oi como é
seu nome, meu nome é: .... mas eu cresci.. eu cresci??? Eu morri e por isso eu
desejo a todos os meus leitores...
Assim seja
nosso natal:
Delicioso
como os biscoitos de minha mãe
Cheio de
luzes como as multicores velas.
Feliz como o
sorriso da menininha...
Inocente
como as perguntas feitas em um supermercado
Feliz
Natal a todos! Que em
2013 possamos escrever lindas histórias para Rir e chorar... que sejam mais
para rir do que para chorar.
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